Deus nos fez com uma capacidade extraordinária de nos comunicar. A comunicação é um complexo processo que envolve uma mensagem que precisa ser transmitida e interpretada. O choro é o mais primitivo meio de comunicação do ser humano. O bebê chora quando tem fome, cansaço, dor, desconforto, para chamar a atenção sobre si e para descarregar as energias.
- “Há muitos estudos sobre o choro dos bebês e muitas generalizações sobre a intensidade. Os pais costumam diagnosticar, de maneira errada, que o choro acontece quase sempre por manha, cólicas ou fome. Essa simplificação traz conseqüências e até medicação errada”.[1]
Na hora de confortar o bebê, muitos pais arriscam oferecer um chazinho relaxante na mamadeira, o que dificulta a amamentação, já que o bebê despende de mais força para sugar o leite. Outro exemplo de quando os pais fazem diagnóstico equivocado do choro, é quando oferecem medicamentos na tentativa de sanar a dor. Os medicamentos, porém, prendem o intestino e facilitam a formação de gases, o que realmente traz dor e desconforto.
A criança que dorme mal ou que está exposta a muitos estímulos sonoros e visuais também tende a chorar pela irritação. O apego ao colo, principalmente da mãe, também faz com que muitos se sintam solitários e passem a chorar na tentativa de ganhar atenção e segurança.
Entenda que a capacidade dos pais em interpretar a mensagem de cada choro depende da profundidade da interação existente entre pais-bebês. Algumas mães distingüem com facilidade quando o bebê chora por cólicas ou quando está com fome. Outras têm dificuldade em entender que a criança está esperneando porque sua fraldinha está cheia de xixi e está deixando seu bumbum todo assado!
Conselhos aos pais: (1) não entre em pânico – o bebê é muito sensível às nossas apreensões e ansiedades. Esta é uma boa hora para o revezamento de pai e mãe para consolar o bebê; (2) não leve seu filho para consultar na farmácia – apesar de bons profissionais, os balconistas de farmácia não estão habilitados para dar diagnósticos e prescrever medicamentos; (3) peça apoio aos seus pais e/ou avós; (3) não ofereça qualquer medicamento ou chá sem orientação médica.
Algumas considerações especiais:
Cólicas do lactente: A cólica do lactente se refere ao choro súbito, inexplicado e inconsolável (não responde às medidas habituais de conforto). A cólica típica se manifesta como um ataque paroxístico de choro forte, agudo, estridente, “em crescendo”. O lactente se estica, fica vermelho, vira a cabeça para os lados, as mãos ficam crispadas, as coxas fletidas sobre o abdome; com freqüência ocorre a eliminação de gases, que parece trazer um alívio temporário. Com breves pausas, o choro pode se prolongar por horas; o choro é inconsolável, o que traz aos pais sentimentos de frustração e impotência. Na prática, a cólica é freqüentemente caracterizada apenas pelo choro sem motivo aparente. Trata-se de um desafio para o Pediatra e um suplício para os pais, pois é agoniante ver o bebê se contorcer de dor. Ainda não existem muitas explicações concretas a respeito da origem das cólicas do lactente. Sabe-se, porém, que elas cessam espontaneamente quando a criança atinge os 3-4 meses de vida. É preciso ter muita paciência. Na prática, fletir levemente a coxa sobre o abdome ou colocar uma fralda morna sobre o abdome ajuda um pouco a aliviar as dores, mas só a idade mesmo é que dá jeito!
Refluxo gastroesofágico: É importante observar que a esofagite pelo refluxo pode ser causa de dor nos bebês, levando-os à crises de choro, especialmente à noite. O refluxo pode ser bastante amenizado com medidas de suporte, como a elevação da cabeceira do berço.
Fralda cheia: Meu maior mote para escrever esta série partiu justamente de uma fralda cheia. Um bebê chorando compulsivamente, uma mãe inexperiente, um pai ausente. Péssima combinação, não é? Bebês são muito exigentes quanto à higiene da região perineal. Não espere a fralda ficar pesada para trocá-la. A humidade da urina deixa o meio ambiente do períneo propício para o desenvolvimento de fungos, especialmente a cândida, que causa assaduras doloridíssimas. Não use lenços umidecidos. Eles contém álcool e outros conservantes que queimam a pele do bebê. Fez cocô ou xixi? Lave o bumbum do bebê no chuveiro morno com sabonete e pronto. É só colocar fralda. E se já for tarde demais e o bebê já estiver assado, o segredo do tratamento da assadura é deixar o bebê sem fraldas durante boa parte do dia (o fungo cândida gosta de ambientes escuros e úmidos) – será bem divertido para o bebê.
Tome bastante cuidado com a água do banho nos ouvidos, pois elas podem levar consigo grande quantidade de germes e causar otite no lactente. Cuide também em não expor o bebê a ambientes com muitos ruídos. Na igreja, fuja das caixas de som.
Seja paciente com seu bebê e transmita esta paciência para que ele sinta em vocês (papai e mamãe) um porto seguro.
Na próxima semana: O bebê teve febre… o que fazer?
Notas:
[1] Júlio Dickstein, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria