Copa

Amigos, começou. Mais uma vez, o mundo da bola é o centro das atenções. É difícil explicar como um objeto pode exercer tanto fascínio e gerar tanta paixão. De repente, aflora um sentimento patriótico, um orgulho de ser isso ou aquilo, uma espécie de influência inexplicável, que nada mais consegue gerar. Todo mundo ansioso pela estréia do Brasil.

Não sei se estou ficando mais experiente ou mais rabugento. Não tenho a mesma sensação das outras pré-copas. Lembro-me mais ou menos de 78 e bem de 82 para frente. A tragédia de Sarriá, aquela prematura desclassificação diante da modesta Itália, foi uma das coisas mais tristes na minha vida até então. 86 (já se vão 20 anos!!), no México, estava no cursinho. Desta vez não foi tão triste assim. 90, na Itália, deu até muita raiva daquela seleção horrorosa do Lazaroni. Nos EUA, em 1994 deu uma certa frustração. Eu estava lá até um dia antes da Copa começar. Passei em frente ao Soldier Stadium, em Chicago, a caminho do aeroporto, algumas horas antes do início da competição. Ganhamos, mas sem empolgação. Era a seleção pragmática do Parreira. 98 foi aquela história estranha e mal explicada do “piripaque” do Ronaldinho. E 2002 foi a Copa da madrugada e eu já nem assisti a todos os jogos naqueles horários malucos.

Continuo gostando do futebol como jogo, como esporte. Como todo garoto brasileiro, já sonhei em entrar em campo com a Seleção, numa final de Copa do Mundo no Maracanã lotado. Mas o gráfico da euforia vai caindo a cada Mundial. Há algumas razões para isso.

Primeiro, é que você começa a perceber que isso é apenas um jogo. Não é a sua vida. Serve apenas para uma distração momentânea. Serve para pegar no pé dos argentinos se a gente ganha ou para eles pegarem no nosso se eles ganham. Não muito mais do que isso. Embora isso seja muito bacana, desde que evitados os excessos, será mesmo que isso não tem preço?

Segundo, porque futebol hoje em dia é muito mais negócio do que esporte. Os interesses vão muitíssimo além da competição em si. Há interesses de políticos, de empresários, de fabricantes de material esportivo. O sujeito fica meia hora trocando a chuteira na beira do campo, só para mostrar a logomarca.

Terceiro, por causa da cobertura da imprensa. As notícias divulgadas são ridículas. O que me interessa saber o que o Ronaldinho comeu na hora do almoço? Que vantagem eu tenho em ver fotos das bolhas do pé do cara ou do bumbum do Gaúcho? E o fascinante campeonato de truco que os jogadores fizeram na concentração? Que relevância! Não tenho mais paciência para isso.

Quarto, porque é difícil ver um perna-de-pau como o David Beckham dizer que se incluía na seleção de todas as copas, mas não incluiria o Pelé. É mais difícil ainda ver o lateral Roberto Carlos dizer que a história de Cafu na Seleção é melhor do que o Pelé.

Quinto, porque está cada dia mais complicado ver um jogo de futebol até o fim. Tentei assistir à partida inicial da Copa. Dormi antes de terminar o primeiro tempo e então resolvi voltar para o trabalho. Uma coisa terrível. Nenhuma jogada digna de uma Copa. Zagueiros matando de canela. Meio tempo já bastou.

Apesar de tudo isso, vamos acabar assistindo e torcendo pelo Brasil. Todo mundo diz que somos favoritos, inclusive nós. E somos mesmo. Temos os melhores jogadores, uma geração brilhante e vencedora. Acontece que em futebol os melhores jogadores nem sempre formam o melhor time. Talento e arte ajudam muito, mas leva mais do que isso para se fazer uma equipe e ainda mais para se fazer uma equipe vencedora. Por isso, mesmo favoritíssimos não podemos dizer que já ganhamos. Talento sozinho não ganha jogo. Habilidade individual não garante o sucesso coletivo. Se fosse assim, o time do circo seria imbatível.

Então fica a pergunta: para quem você joga? Para o time ou para si mesmo? Tem muita gente que tem uma enorme ficha corrida, orgulha-se de suas décadas de serviços prestados, tem muita habilidade e talento, mas não é capaz de ajudar a equipe, porque é gente que pensa pequeno. Preocupa-se com o próprio umbigo e aí o time nunca passa da fase de classificação.

Vamos ver se os Pentacampeões serão um time ou apenas, fazendo de propósito uma incoerência lingüística, uma constelação de estrelas solitárias.

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