“Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai.” [1]
Ah, deliciosas alegorias de Jesus! A Bíblia é repleta de simbolismos a respeito do Messias do Senhor – Jesus Cristo, nosso Salvador. É até capaz de confrontar dois animais tão diferentes quanto um cordeiro e um leão para tipificar nosso Senhor.
Para falar de Redenção, Jesus é viso como Cordeiro, que ofereceu o sacrifício vital e vicário único e perfeito para redenção do pecador. Esta visão também acompanha João em Patmos ao contemplar Jesus como Cordeiro como tendo sido morto [2]. É interessante observar que, na visão de João, quando Ele contempla o livro selado com os sete selos e, não achando ninguém digno de abrir-lhe os selos, começa a chorar, é consolado com as palavras dizendo que o “Leão da tribo de Judá” vencera para abrir o livro. A seguir, o que João vê não é um Leão, mas um Cordeiro. O que isto nos mostra?
A figura do Leão traz uma idéia de força e vitória diante de um embate. Jesus venceu a morte, o que o torna digno de abrir os selos do livro, permitindo todo o desenrolar da história. A figura do Cordeiro, porém, nos traz à memória a idéia do sacrifício redentor. Saber que na eternidade a contemplação de Jesus nos trará a imagem do Cordeiro como tendo sido morto nos diz que Ele para sempre levará consigo as marcas da cruz. Ambas as figuras convivem harmonicamente na Palavra e nos conduzem a uma atitude comum: a Adoração.
Embora Jesus tivesse sido levado à morte pelos pecados humanos, ele não morreu como mártir. Pelo contrário, ele foi à cruz espontaneamente, até mesmo deliberadamente. Desde o começo do seu ministério público, ele se consagrou a esse destino.[3]
… eu espontaneamente a dou…
eu. Jesus assumiu aqui total cumplicidade com a Vontade do Pai no plano redentor. Ao afirmar dogmaticamente que ele entregava sua vida, estava evidenciando sua total cumplicidade no Plano Redentor, cuja participação Ele teve desde a fundação do mundo.
espontaneamente. A morte de Jesus não pode ser atribuída em nenhum momento a um ato de martírio. Jesus não foi morto por Judas, nem pelo dinheiro, nem pela ganância, nem por Pilatos, muito menos pelos soldados romanos. Ele não foi morto porque foi sentenciado. Ele afirma dogmaticamente que sua morte foi um ato espontâneo. Jesus sabia exatamente que sua morte se aproximava. Ele conhecia a Vontade de Deus, pois se havia cumpliciado com ela[4]. Ele permitiu que tudo fosse cumprido de forma cabal, exatamente conforme diziam as Escrituras.
a. A vida de Jesus que foi entregue espontânea e deliberadamente por nós possui um significado especial. “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação.” [5]. Na Cruz, Jesus – Deus encarnado, inteiramente homem e Deus – oferece o sacrifício substitutivo pelo pecado. “Pois a essência do pecado é o homem substituindo-se a si mesmo por Deus, ao passo que a essência da salvação é Deus substituindo-se a si mesmo pelo homem”.[6]
dou. A utilização do verbo dar nesta afirmação dogmática de Jesus aponta mais uma vez para o aspecto da volição. Indica que Jesus deu a sua vida, e não que ela lhe foi tirada. Ela se relaciona com o aspecto da volição, uma vez que só quem tem legítima autoridade sobre sua própria vida é capaz de lha dar.
Jesus não foi morto. O Leão da Tribo de Judá voluntariamente permitiu que sua suntuosa juba fosse despida. Deliberadamente recebeu em seu corpo açoites imerecidamente. O Leão subiu carregando custoso fardo para o Gólgota e, quando lá estava, como Cordeiro mudo deitou-se sobre a Cruz e se fez maldição por mim e por você, consumando a Vontade Santíssima de Deus.
Gostaria de convidá-lo a Adorar a este Jesus, o Cordeiro de Deus e Leão da Tribo de Judá, que venceu a morte desde a eternidade, e espontaneamente se deu por mim e por você.
Até a próxima.
Notas:
[1] João 10:18 [2] Apocalipse 5:6 [3] STOTT, John em A Cruz de Cristo, p.52 [4] Mateus 26:29 [5] 2 Coríntios 5:19 [6] STOTT, John em A Cruz de Cristo, p.144