Os sabores da graça

Gostaria de trazer à sua memória os fatos acerca da conversão do centurião Cornélio. Você se lembra que ele estava em casa orando quando o Senhor lhe ordena que mande buscar a Pedro para contar-lhe sobre o Evangelho[1]. Pedro estava em outra cidade, em Jope, passando uma temporada com Simão, um curtidor local que, possivelmente era um judeu convertido. Por volta do meio dia, Pedro resolveu subir ao terraço para orar. Ele estava faminto e, enquanto preparavam-lhe o almoço, o Senhor lhe mostrou um lençol com toda sorte de animais cujo consumo era proibido aos judeus. A ordem de Deus era que Pedro comesse os animais, mas ele desobedeceu as ordens de Deus.

Naquela visão, Deus estava mostrando a Pedro que a Graça de Deus não estava restrita somente aos judeus com toda sua religiosidade, tradição e costumes. Fica claro que o favor de Deus é um presente que depende da obediência, a aceitação daquele a quem é ofertado. Por várias vezes nas Escrituras, Deus usa alimentos para trazer ensinamentos a respeito da Graça. Você conhece os paladares da Graça de Deus?

A primeira impressão gustativa que gostaria de destacar é apresentada em Êxodo 3:8. A Promessa de Deus a Moisés a respeito da terra prometida se referia a dois alimentos com sabores peculiares: o leite e o mel. Ambos alimentos servem de base para vários outros pratos e são considerados fundamentais no ciclo alimentar dos povos. Deus promete aos judeus escravos no Egito que os levaria a uma terra em que o leite e o mel seriam abundante indicando que a promessa de Deus incluía fartura e delícias.

Antes de iniciar a caminhada rumo à terra prometida, nos deparamos com mais três alimentos de sabores especiais[2]. Após terrível assolação no Egito causada por nove pragas divinas e, antecedendo a décima praga, o Senhor dá ordens para uma refeição especial. Esta refeição teria três alimentos especiais: ervas amargas, pão sem fermento e um cordeiro que deveria ser sacrificado e seu sangue aspergido nas portas das casas. A refeição deveria ser comida à noite, mas ninguém deveria estar vestindo pijamas. Deveriam estar trajados como se fossem partir para uma longa viagem. A amargura das ervas nunca os deixaria esquecer do cativeiro egípcio. O pão asmo os lembraria para sempre da urgência da salvação e a necessidade de livrar-se do pecado. O cordeiro lembrá-los-ia que sem derramamento de sangue não há remissão de pecados.

A promessa não era leite e mel? Deus se enganou? De maneira alguma. Para desfrutar a promessa de Deus eles precisavam confiar e obedecer. Para provar o sabor do leite e do mel, era preciso provar outros sabores para se lembrar do quanto custou a Graça. “Agora, pois, ó Israel, que é que o SENHOR requer de ti? Não é que temas o SENHOR, teu Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma”[3]. Deus não pediu que seu povo entendesse, mas que obedecesse. Apesar de ser um povo indigno, Deus os queria salvar e foi ao seu encontro.

No Cenáculo, Jesus celebra a conjunção de dois novos alimentos e sabores: o pão e o vinho. Jesus encerra em si mesmo a concretização promessa da salvação eterna. Que alegria. NEle habitaremos novos céus e nova terra nos quais habita a justiça. Terra que mana bem mais que leite e mel, mas delícias perpetuamente[4]. No entanto Jesus escolhe dois elementos com significados especiais que não nos permitiria caminhar rumo à eternidade sem lembrar do quanto isto custou e a quem custou. Participar do pão e o vinho da Nova Aliança jamais pode nos fazer sentir aborrecido ou triste, mas com o coração cheio de júbilo, pois ela nos lembra que através do seu significado temos a plena redenção e livre acesso à Sala do Trono de Deus…

Até a próxima.

Notas:

[1] confira toda a história em Atos 10 [2] cf Êxodo 12 [3] Deuteronômio 10:12 [4] Salmos 16:11