O primeiro estágio para se ter uma equipe ministerial saudável é se compreender o que é uma equipe como essa, entender quais são as características essenciais para uma equipe ministerial, afinal se não tivermos ideia de como é uma equipe ministerial saudável, é bem possível que nunca chegaremos a ela, simplesmente por não a conhecermos.
Pensando em outras situações, todos concordariam que uma equipe de futebol pode ser chamada deequipe por que reúne um grupo de pessoas trabalhando juntas, debaixo de uma orientação definida, reunindo diferentes habilidades complementares, manifestando compromisso com a causa do time, visando um objetivo comum, entre outras classificações que alguém poderia identificar.
Contudo, temos por certo que uma equipe ministerial é muito mais do que isso: Não se trata apenas de trabalhar juntos, sob orientação definida, reunindo pessoas comprometidas, com diferentes habilidades com um objetivo comum, afinal o ministério não é como um empreendimento natural. O ministério na igreja local é muito mais abrangente e necessário que qualquer outro trabalho de qualquer outra instituição: Trata-se da manifestação pessoal de Cristo através de seus filhos na terra.
Sendo assim, gostaria de oferecer uma definição básica de equipe ministerial, que espero possa servir:“Uma equipe ministerial é a soma de um líder comprometido com voluntários disponíveis e dispostos em unidade e comunhão, sob orientação divina para servir a Deus”. Para que essa definição seja melhor compreendida, abaixo definimos cada sentença dessa definição:
1. Líder comprometido
“Uma coisa é assumir um compromisso. Outra coisa é agarrar-se a ele. Toda vez que faz escolhas baseadas em sólidos valores de vida, você está em uma melhor posição de sustentar seu nível de compromisso, pois não tem de reavaliar constantemente a importância desse compromisso. É como resolver uma questão antes de ela ser provada. Comprometer-se com algo em que você acredita é um compromisso mais fácil de ser mantido” (John Maxwell).
O que define um líder comprometido? O compromisso do líder cristão não é medido apenas por sua dedicação no ministério, mas seu comprometimento com Cristo e a fé cristã. Em outras palavras, estamos dizendo que um líder comprometido em um ministério eclesiástico é alguém que reconhece sua salvação em Cristo, é experimentado como tal, que manifesta seu compromisso pessoal com Cristo e sua causa, além de ser um grande exemplo cristão para todos os que com ele trabalham. É também dedicado aos afazeres ministeriais e busca a excelência em tudo o que faz. Vamos observar algumas das características desejadas para o líder cristão:
A. Vida devocional
Espera-se que um líder ministerial tenha em sua vida o tempo com Deus de qualidade. Bill Lawrence, fundador do ministério Leader Formation International, afirma o seguinte: “Não é possível ter tempo de qualidade com Deus sem quantidade de tempo com Deus”.
No livro Piedade e Paixão, Hernandes Dias Lopes afirma que “a vida do ministro é a vida do ministério (…) Uma vida ungida produz um ministério ungido, pois santidade é o fundamento de um ministério poderoso” (Editora Candeia, 2002, pp.8).
B. Caráter
Embora não seja requisito para todos os tipos de ministério eclesiástico, o ideal apresentado por Paulo para bispos e diáconos em suas cartas pastorais deve ser almejado por todos os líderes ministeriais. O padrão ministerial das escrituras exige que hoje tenhamos equipes lideradas por homens e mulheres de caráter cristão, afinal, serão eles os responsáveis pela formação da próxima geração de líderes.
C. Competência
Por competência entendemos as capacitações pessoais do líder que em pleno uso servirão não apenas ao funcionamento do ministério, mais ao desenvolvimento do mesmo. Diversas são as competências exigidas de um líder ministerial, mas é importante que se entenda que diferentes ministérios têm diferentes necessidades e, por isso, o conjunto de competências pessoais do líder pode variar de ministério para ministério.
Também é importante lembrar que no ministério cristão a competência não é um pré-requisito, mas uma característica almejada, pois dentre todas as características essenciais do ministro, essa é a única que pode ser desenvolvida. No ministério nunca podemos inverter a ordem correta de valores para líderes ministeriais: Competência sempre segue ao caráter. Não podemos correr o risco de termos em nossa equipe ministerial líderes competentes sem caráter. É sempre importante lembrar que pessoas piedosas e marcadas pelo caráter de Cristo serão úteis no Reino de Deus, mesmo que não tenham todas as competências necessárias para coordenar determinado ministério.
D. Tempo para tarefas
Sem tempo para se envolver em tarefas específicas não é possível construir um líder comprometido com o ministério. Quantas vezes já vimos voluntários assumirem responsabilidades ministeriais para as quais não tem tempo para realizar e vimos o resultado desastroso que isso pode gerar. Agora, imagine um líder que não tem tempo para realização de tarefas? É impossível construir um ministério saudável com esse tipo de liderança.
Quando falamos em tempo para tarefas, estamos falando sobre a reflexão pessoal para o desenvolvimento do ministério, o planejamento de atividades, a coordenação e supervisão da equipe e a disposição de estar pessoalmente envolvido com o ministério.
E. Tempo para pessoas
Como o ministério cristão é basicamente um trabalho feito por voluntários para atender a pessoas, não é possível estabelecer um líder ministerial que não tenha tempo ou até mesmo habilidade par lidar com pessoas. A rotina de qualquer ministério envolve uma grande dose de relacionamento, e líderes que ignoram essa realidade provavelmente não estão preparados para o ministério.
F. Tempo para formar líderes
A liderança atinge seu ápice quando passa a dedicar a formação de líderes. Esse princípio de liderança, antes de ser uma definição secular, é apresentada por Paulo nas escrituras: “E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros” (2Tm.2.2). A formação da liderança de um ministério deveria nascer dentro do ministério, até por que, são os voluntários dessa iniciativa que reconhecem o trabalho e suas necessidades. São eles que estão habituados ao tipo do trabalho e que acompanham de perto o trabalho do líder, portanto, devem ser objeto do investimento do líder.
2. Grupo disposto e disponível
Disposição e disponibilidade são as duas mais desejáveis características de voluntários em uma equipe de trabalho: (1) Em uma equipe disposta encontramos pessoas motivadas com aquela energia contagiante que busca realizar tarefas com excelência; (2) Contudo, sem disponibilidade, nada disso jamais seria possível. Encontrar pessoas que tenham uma das duas características pode ser prejudicial para o ministério, pois pessoas com tempo, mas sem disposição tendem a ser voluntários ineficientes, do mesmo modo que voluntários dispostos mas indisponíveis. É por isso que defendemos que o corpo de voluntários disposto e disponível é parte essencial de um ministério: Sem obreiros não há obra.
Quando pensamos em equipe ministerial, estamos pensando em um grupo de pessoas que tenham sido alcançadas pela graça divina, com objetivo em comum, trabalhando juntas em cooperação e comunicação, manifestando seu compromisso com o trabalho de modo que possam atingir as metas propostas para o ministério. Vamos observar cada parte desse conceito:
A. Graça divina
Ter um grupo de pessoas alcançadas pela Graça divina é fundamental para uma equipe ministerial ser saudável: Não é possível ser uma equipe ministerial saudável com pessoas não resgatadas na equipe por diversas razões:
1. Objetivos: O supremo objetivo do ministério é a glória de Deus, e os que estão na carne não podem agradar a Deus (Rm.8.8). A essência da salvação é o exercício da fé pessoal em Cristo Jesus, mas os não salvos não possuem esse tipo de fé, e sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11.6).
2. Convívio: É parte da missão cristã viver em amor mútuo, mas para que esse amor seja verdadeiro é necessário que o indivíduo tenha sido resgatado pela graça de Deus. Entretanto, não resgatados pela Graça divina não tem acesso a esse tipo de amor.
3. Valores: Os valores ministeriais são fundamentado nas escrituras e fundamentalmente dependentes dela, mas o não resgatado pela graça divina, pode não se adequar aos valores fundamentais do ministério.
4. Trabalho do Espírito Santo: “Uma equipe ministerial precisa de pessoas por meio de quem o Espírito Santo possa fluir facilmente, e é vital que cada pessoa trabalhe diligentemente para manter sua própria caminhada pessoal com Cristo, pelo estudo bíblico, memorização das escrituras, oração e serviço aos outros. Qualquer que seja a visão, os membros da equipe devem todos tomar parte vital no ministério atual, nunca se tornando alheio e apenas dirigindo outros ou puramente lidando com administração” (Tom Phillips, Líderes em ação, org. George Barna, United Press, 1999, pp.237). Uma pessoa não resgatada por Cristo não pode experimentar isso e não pode oferecer isso para a equipe.
B. Objetivo Comum
O objetivo final do ministério cristão é Glorificar a Deus, e não existe nenhum objetivo mais nobre do que esse. Embora um ministério possa ter objetivos específicos para cada situação, é fundamental que os voluntários desse ministério tenham a plena convicção de que o trabalho realizado pelo ministério, o serviço prestado é um culto a Deus. Essa visão transforma o modo como servimos ao Senhor de toda terra.
Por outro lado, sabemos que ministério tem características e atividades muito particulares e que cada ministério terá sua definição de objetivo específico. Contudo é importante lembrar que tal definição é sempre delegada pela liderança do mesmo: Cabe o líder definir o alvo do ministério para o qual toda a equipe vai se empenhar em realizar. Por outro lado, cabe os voluntários desse ministério abraçarem tal alvo e dedicarem suas energias na obtenção desse objetivo, sempre respeitando os valores cristãos para o ministério.
C. Cooperação
Uma equipe ministerial deve existir em mútua cooperação, mas antes que alguém pense que tal definição é por demais secularizada, devemos lembra-lo que as escrituras estabelecem esse valor como um princípio fundamental do Corpo de Cristo. Ou seja, como o ministério cristão sempre está vinculado à Igreja, é impossível pensar em um trabalho do Corpo de Cristo que desrespeite algum conceito fundamental de Cristo.
Também devemos acrescentar que um grupo de pessoas em conflito não representa um ideal para uma equipe ministerial: Cooperação é esperada de cada membro da equipe, de modo que a realização ministerial não é de alguns, mas de todos os que servem a Cristo por meio de um ministério específico. Por cooperação estamos defendendo um pouco mais que apenas unidade (no sentido de estarem juntos), mas uma decisão ativa de participar com outros membros da mesma equipe e servi-los enquanto trabalhamos para o mesmo objetivo do ministério.
D. Comunicação
Uma grande falha que pode comprometer o funcionamento adequado de uma equipe é a comunicação: Faltar com a comunicação, seja do líder para com a equipe, da equipe para com o líder, ou entre a equipe, é suficiente para abalar as estruturas de um ministério, a cooperação entre os voluntários ou até mesmo com acabar com o líder do ministério: Sem comunicação é possível que os voluntários lutem uns contra os outros. Vamos observar alguns dos riscos que corremos com a falta de comunicação:
1. Falta de comunicação do líder com a equipe: O risco de um líder não comunicar com sua equipe é de perdê-los diante da atividade e tarefas a serem feitas, ou até mesmo de perder o ministério por falta de participação e envolvimento dos voluntários. Não é incomum que líderes com dificuldades de comunicação centralizem neles mesmos as atividades do ministério e com isso percam voluntários que se sentem desprezados. Também não é incomum que líderes que não comunicam adequadamente façam que os voluntários de determinado ministério fiquem perdidos e sem direção.
2. Falta de comunicação da equipe com o líder: Por outro lado, quando a equipe não comunica adequadamente suas necessidades, dificuldades e até mesmo sugestões de melhoria, eles colocam o líder em uma posição arriscada: É como se o deixassem cego para dirigir um carro – ainda que ele saiba como a mecânica do ministério funciona, ele não enxerga onde estão as dificuldades, as barreiras e limitações do mesmo.
3. Falta de comunicação entre a equipe: Contudo, quando a equipe não comunica entre si pode gerar trabalho desnecessário, duplicado, esquecido e não realizado. Não é incomum em equipes que não se comunicam que duas pessoas gastem energia para realizar o mesmo trabalho desnecessariamente, ou se esqueçam de determinada tarefa e não a realizem. A importância da comunicação entre a equipe é fundamental para que todos saibam o que está acontecendo. É normal que equipes esperem do seu líder a comunicação de todos os fatos e acontecimentos, mas se a equipe trabalhar na comunicação de suas atividades, ela presta um serviço à equipe e alivia uma atividade do líder: É uma daquelas ocasiões em que todos saem ganhando.
D. Compromisso
O comprometimento dos voluntários é geralmente um bom termômetro para a saúde da equipe ministerial. Se temos uma equipe com algumas pessoas com baixo compromisso com o ministério e seu trabalho, é possível que problema seja local. Contudo, se temos uma equipe sem compromisso, é impossível que essa equipe seja saudável.
O compromisso do líder com o ministério sempre estabelece o padrão para os voluntários, que dificilmente o superarão, pois nesse caso o líder estabelece o valor máximo do empenho. Ou seja, o comprometimento da equipe ministerial também serve como termômetro para o compromisso do líder com o ministério.
Contudo, uma equipe saudável sabe que o sucesso segue o sacrifício pessoal: Não é possível atingirmos todos os alvos do ministério sem uma alta dose de esforço e dedicação pessoal. Uma equipe saudável está disposta a pagar o preço do investimento de tempo e energia para concretizar os objetivos ministeriais do seu serviço prestado a Deus. E uma boa forma de avaliar (medir) o comprometimento de um voluntário está no modo como acomoda sua agenda ministerial: Quando há preferência para eventos pessoais simples e comuns, não há compromisso para com o ministério.
3. Em unidade e comunhão
Unidade e comunhão não são sinônimas: A primeira palavra expressa um grupo de pessoas com um objetivo comum, mas nada fala sobre o modo como esses se relacionam. Já a segunda, define o tipo de relacionamento que esse grupo tem, embora nada fale sobre sua função.
Entretanto essas duas características são fundamentais para o Corpo de Cristo de tal forma que Jesus chega a colocar sobre elas a evidência final de sua origem sobrenatural: “a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo.17.21). A unidade esperada da Igreja é apresentada como à semelhança da unidade que Cristo tem com o Pai, e se a Igreja viver desse modo testemunhará de modo inequívoco que Jesus Cristo é de fato o Filho de Deus.
Nesse verso encontramos as duas qualidades que mencionamos acima: União, pois há uma missão definida aqui: testemunhar a origem sobrenatural de Cristo, e Comunhão, pois há um critério claro de comunhão esperado pela Igreja, baseado no relacionamento que Cristo estabelece com o próprio Deus.
Tomando isso como princípio para nossos ministérios, não podemos buscar nada menor do que isso, pois disso depende a própria natureza da igreja. Ou seja, ministérios que não prezam por unidade e comunhão prezam pelo insucesso diante de Deus, pois não é possível realizar o trabalho de Deus em desconformidade com Sua Palavra e ainda esperar crescimento e desenvolvimento ministerial.
4. Sob a orientação Divina
Outra característica do ministério, e somente do ministério, é que o trabalho realizado não está debaixo da capacidade e supervisão do líder: Nesse caso, todos estão debaixo da capacitação, supervisão e orientação divina. A diferença essencial entre líder e voluntário no ministério é apenas funcional: Eles desempenham diferentes funções diante do Supremo Líder.
A postura do líder do ministério deve se assemelhar a de Paulo: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1Co.11.1), o que nesse caso demonstra por fato que liderança cristã tem mais a ver com o seguir que conduzir. A ideia é que o líder viva em tamanha proximidade de Cristo que seus liderados possam segui-lo com segurança.
A equipe ministerial deveria ter por modelo a orientação de Paulo: “Porque de Deus somos cooperadores” (1Co 3.9), o que demonstra que a embora existam diferentes funções e trabalhos no reino de Deus, não estamos trabalhando para ninguém, senão para Deus: Ele mesmo nos dá o privilégio de estabelecermos com Ele uma parceria em prol da edificação da Igreja, que Cristo se ocupa em edificar.
Os apóstolos tinham essa consciência e entendiam que eram apenas instrumentos nas mãos de Deus (At 2.43) e que Deus era o responsável pelas realizações ministeriais mais importantes (2.48): Nenhuma conquista ministerial pode ser jamais atribuída a um líder ou equipe, mas apenas ao Supremo Senhor que conduz e mantém seus servos em Seu serviço.
5. Para servir a Deus
Se o princípio fundamental da vida cristã é Glorificar a Deus, não podemos almejar outro Senhor a servir com nosso trabalho senão Deus. Esse é o alvo máximo do ministério. Somente Deus pode dar valor ao nosso trabalho e somente Nele nosso trabalho não é vazio.
Independente do tipo de ministério realizado por uma equipe ministerial, em uma equipe ministerial saudável todos os membros tem consciência de que suas atividades não são destinadas a igreja, ao ministério, quanto menos a homem algum, mas ao próprio Deus.