Amigos, vivemos na era do estresse. Nossos pais e avós nem sabiam pronunciar esta palavra, importada que é do inglês “stress”. Não que faltassem motivos para preocupações. Estar pré-ocupado com alguma coisa sempre fez parte da vida dos seres humanos. Sempre houve gente querendo abraçar o mundo, sempre houve gente apressada.
É que de uns tempos para cá as facilidades da tecnologia trataram de maximizar as oportunidades de correr atrás do vento. Antes do celular existir, os pais deixavam os filhos na escola e só tinham que pegá-los ao final das aulas. Hoje não. É preciso comprar um celular para cada filho e ligar de meia em meia hora para saber o que está acontecendo. Liga na hora que sai de casa para avisar que está saindo. Depois liga de novo para avisar que o trânsito está pesado (como se isso não acontecesse todos os dias). Semana passada uma reportagem mostrava pais pendurados na Internet para assistir as primeiras aulas dos filhos. E a pergunta que não quer calar: o que adianta tudo isso? Será apenas para compensar o fato de que os pais privilegiam suas carreiras profissionais e negligenciam estar com seus filhos por mais tempo?
O cristão moderno não vê mais a ansiedade como pecado. Ele a vê apenas como o “mal do século”. Acha até bonito falar que é perfeccionista, como se isso fosse uma qualidade, não um terrível defeito. Super-protege os filhos, como se eles fossem ficar grudados nele a vida inteira. Não tem vergonha de falar (e até de receitar por conta própria, viciando outros) que tem que tomar remédio para dormir, que faz análise (pagando a hora a peso de ouro). Fora as gastrites nervosas, as úlceras, os relacionamentos colocados em risco.
Em suma, a ansiedade que assola os filhos das trevas assola também os que são filhos da luz. Não há diferença. A maneira do cristão encarar a vida e suas circunstâncias é idêntica. E isso vai contaminando uma geração após a outra. Pais ansiosos criam filhos ansiosos. Aí o camarada se mata no cursinho o ano inteiro, mas vai para a prova com uma carga tão grande sobre os ombros, fica tão nervoso que vai mal no vestibular e fica mais 4 anos no cursinho.
A ansiedade é pecado. A Bíblia diz: “Não andeis ansiosos de coisa alguma. Em tudo porém sejam conhecidas diante de Deus as vossas necessidades, pela oração e pela súplica”. A ansiedade não resolve nada. Jesus deixou isso muito claro, quando declarou: “Quem de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua existência?”
A pessoa ansiosa tem suas justificativas. Por exemplo, ela está numa igreja em que acontece um monte de coisa errada e ninguém faz nada. Então, ela não se agüenta. Começa a mexer daqui, mexer dali, fala com um, fala com outro, pede “conselho” com pessoas de outros lugares. Quando ainda não dá certo, começa a brigar, a reclamar. Chega até a apelar. Faz chantagem, ameaça ir embora e às vezes até acaba indo mesmo. Ela é uma pessoa sincera. Do fundo do seu coração ela quer fazer aquela igreja melhor. A última coisa que esta pessoa quer na vida é ser chamada de omissa ou passiva. Ela não pode ver as coisas do jeito que estão sem fazer nada. Se ela não cuidar dos seus filhos, quem vai cuidar?
De fato, a passividade é uma praga cujo poder de destruição é igual ao da ansiedade. Ambas trazem miséria, confusão, estresse, e tudo aquilo que mencionamos lá em cima. Afinal, qual a diferença entre ansiedade e passividade?
Para mim, ansiedade é preocupar-se com qualquer coisa que esteja fora do seu controle ou esfera de atuação. Passividade é justamente não se preocupar com qualquer coisa que esteja na sua esfera de atuação ou responsabilidade.
Ansiedade é chamar para si a responsabilidade do outro, seja ele quem for (inclusive Deus). Passividade é passar para outro, seja ele quem for (inclusive Deus), a responsabilidade que é sua. Por exemplo, saber onde seus filhos estão, com quem andam, é sua responsabilidade. Se você não toma as medidas necessárias a respeito disso, está agindo com passividade. Ficar sem dormir pensando o que pode acontecer caso ele não passe no vestibular é algo sobre o que você não tem controle. Se você agir assim, está sendo ansioso.
Pense no caso dos pais super-protetores. Se eles não educam seus filhos, não estabelecem limites, não deixam claro quem é autoridade no lar, não os corrigem quando erram, passam a mão na cabeça deles quando alguém traz algum problema causado por eles, estão sendo passivos. Se eles ficam ligando de 5 em 5 minutos para saber se tem algum problema, se eles pulam na frente dos filhos como leões para defendê-los em toda e qualquer circunstância, se eles passam 3 meses desesperados ao telefone para conseguir alojamento para o filho de 25 anos, se eles não dão espaço para os filhos crescerem, se eles não ensinam os filhos a tomarem suas decisões sozinhos, estão sendo ansiosos.
Pense no caso da igreja. Se eu sou liderança e não lidero, se não tomo decisões, se me escondo quando surgem os problemas, se espero a casa cair para me mexer, estou sendo passivo. Porém se tento resolver todos os problemas de uma vez só, realizando em uma semana o que precisaria ser resolvido em um ano, estou sendo ansioso. As duas coisas tendem a matar uma igreja.
Se sou liderado e não me submeto à liderança, se dou palpites mas não dou a mão para ajudar a fazer, se me envolvo em mexericos de qualquer sorte ou intensidade, se fico o tempo todo cobrando e exigindo esta ou aquela postura dos líderes, estou sendo ansioso. Se por outro lado não faço o que posso, naquilo onde Deus me colocou (pode ser liderar um grupo de jovens, manter um programa consistente de discipulado individual com uma lista de pessoas, orar consistentemente pela situação, investir na vida de um novo convertido com potencial, aconselhar um casal em dificuldades – a lista é interminável), porque acho mais fácil culpar os que deviam fazer outras coisas e não faço, estou sendo passivo.
Em geral, observa-se que os mais ansiosos são os mais passivos. Preocupam-se em excesso com os que deveriam fazer alguma coisa, são críticos implacáveis, mas nem sempre estão dispostos a fazer a sua parte. Estão lendo este artigo e pensando para quem eles vão mandar uma cópia. Raramente deixam a ficha cair e percebem que esta atitude é deletéria. Destrói ao invés de construir. Porém, se canalizada para uma ação espiritual, controlada por Deus, pode ser a resposta de muitas orações que pedem mudança e um novo começo.
A passividade contamina. A ansiedade desagrega. Ambas são letais. Fuja de ambas. Felizmente, há uma terceira alternativa: o compromisso. Em qualquer tipo de atividade humana, seja um time de futebol, uma equipe de vendas, um grupo familiar ou uma igreja, pessoas comprometidas são necessárias e requisitadas. Todo mundo quer trabalhar com alguém assim.
O que é uma pessoa comprometida? É aquela que assume sua própria responsabilidade, independentemente do que os outros estejam fazendo, e vai até o fim fazendo o que é da sua conta. Esta pessoa não é ansiosa, porque não chama para si o que não lhe diz respeito. Não é passiva, porque não fica esperando os outros fazerem o que ela tem que fazer. Por isso, ela é focada, tem propósitos e objetivos claros e definidos. Não há dúvida nenhuma, essa pessoa será produtiva. Será um canal de bênção para si mesma e para os que estiverem ao seu redor.
Cabe-nos uma decisão: que alternativa vamos escolher para nossas vidas a partir de hoje?