Dias de viagem. Debaixo de sol, debaixo de chuva. Enfrentei fome, sede, medo. Caminhei muitas vezes sozinho, em outras segui com muitos. Chorei, sorri. Assisti o tempo passar devagar por mim.
Sonhei muito com a chegada. Olhei sempre para o horizonte na busca de melhor sorte. Enfraqueci meus passos nas tristezas. E os fortaleci na esperança. Ajudei aos que tropeçavam cansados, carreguei alguns até. Fui carregado por muitos também.
Agora estou aqui. Chegou a hora de entrar na cidade a mim prometida como morada maravilhosa que vale por toda a vida. Estou ao pé da muralha que a protege. Não tenho forças para a escalar. Contemplo sua grandiosidade. Seu concreto frio nas minhas mãos estendidas sobre o muro parece me mostrar a frieza deste último passo.
Tanto tempo, tanta vida, tanto esforço, e ainda resta um muro. Chamam-no de morte. Muitos o encontraram por acaso. Outros o procuraram a vida toda sem perceber. E ainda existem aqueles que queriam distância dele. Meu problema não é o muro, é como transpô-lo. Não temo o que encontrarei do outro lado, eu conheço o dono e arquiteto desta cidade. Na verdade, Ele me ensinou a chegar até aqui com segurança. O negócio é o muro. E a dificuldade que todos temos de saltar para o outro lado.
Prostrei-me aos pés da muralha, fechei os olhos. Senti sua mão tocar meu rosto, percebi que era Ele, pois esse gesto havia se tornado habitual durante toda a caminhada, mas permaneci parado. Ele agarrou minha mão, senti-me seguro. Voamos sobre o muro. E finalmente pude ver, estava em casa.
por João Eduardo Cruz