Amigos, como é bonito falar em coisas nobres. Se você quiser ser ouvido, considerado, apontado como “o cara”, aquele homem espiritual, tenha sempre nos lábios a palavra “amor” e suas derivações. Não há quem não pare para ouvir o que você tem a dizer, quando você começa sua participação numa reunião com expressões do tipo “Precisamos nos amar mais” ou “Está faltando amor aqui” ou “É pelo amor que seremos conhecidos”. Estas expressões funcionam como senhas secretas, como palavras mágicas contra as quais nada se pode estabelecer. Afinal de contas, quem seria o maluco de tentar retrucar alguém que fala de amor?
Meditando sobre conceitos, porém, precisamos passar um pouco além da superfície. Até porque os Beatles, os Hippies, os Hari Krishna também falam de amor. Eles sempre pregaram que a solução para as guerras, para as desinteligências, para as diferenças sociais e para relações humanas mais puras era o amor. Por que será que a sua proposta não vingou? Será porque eles não foram ouvidos? Negativo. Milhões ouviram o que eles diziam e foram atrás deles. Gerações inteiras prestaram culto às alternativas que eles apresentaram e viram-se órfãos depois de tentarem tudo.
A questão era o que eles entendiam por “amor”. Sua definição do tema era o centro do problema. “Amor” para eles era um mero sentimento. Nobre, é verdade, mas apenas um sentimento. Era alguma coisa que referia-se às suas emoções. Vá até o fim do artigo antes de chegar a alguma conclusão, mas deixe-me avisá-lo de que este é o conceito de amor que muitos cristãos (inclusive os que têm nos lábios as frases do primeiro parágrafo) têm até hoje. Para muitos amor é algo que se “sente”, algo que se opera na esfera emocional e nada mais.
Amor bíblico, porém, é mais do que isso. É uma atitude que se assume. Você decide amar alguém. Amor é fruto de escolha. É uma opção que você faz ou não faz. Não acontece sozinho, nem por acaso, nem sem querer. Só ama quem quer amar. E esta decisão começa a afetar nossa maneira de tratar a pessoa ou o objeto amado.
Por exemplo, o amor de Deus por nós. Ele decidiu nos amar, desde a eternidade passada. Antes de nos criar, ele escolheu que nos amaria. Quando nós nascemos e nos desviamos dele, ele agiu a respeito disso, baseado no seu amor por nós. Deus amou o mundo de tal maneira, QUE DEU SEU FILHO UNIGÊNITO. O mais impressionante no amor de Deus não é o seu tamanho, mas é o que ele produziu como resultado. Do que adiantaria Deus ter nos amado com amor eterno, se ele não providenciasse um meio, um recurso, para nos levar de volta a ele?
Uma vez que nosso amor humano é um reflexo do amor de Deus, este componente de ação deve estar presente em nosso amor. Paulo fala aos Coríntios de uma série de coisas que o amor faz e não faz.
“O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece, não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”
Observe que há coisas que o amor “é” e coisas que ele “não é”. Em geral, enfatiza-se muito aquilo que o amor é: sofredor, benigno, paciente, crédulo, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Pouca importância se dá àquilo que o amor NÃO É: NÃO É invejoso, NÃO se vangloria, NÃO É soberbo, NÃO É irritadiço, NÃO É malicioso, NÃO gosta de injustiça nem de mentira, NÃO BUSCA o interesse pessoal. Esta parte normalmente é esquecida por aqueles que o evocam para ter nos lábios palavras bonitas e nas atitudes a feiúra da iniqüidade.
Fica claro, então, que não se pode evocar o amor para justificar o que está errado, o que é injusto, o que é mentira. O amor não é um salvo-conduto para a gente fazer o que bem entende e ficar por isso mesmo. O amor é como a graça de Deus. Ela não nos dá o direito de pecar à vontade, de andarmos em frouxidão de vida. A graça existe, e precisamos dela dia após dia, para nos mantermos em pé. Para agirmos direito. E, se porventura pecarmos, conseguirmos a força necessária para levantar e seguir em frente. O amor é a mesma coisa. Ele não passa a mão na cabeça do pecado, não acaricia o erro e a impiedade. Ao contrário, ele age com ternura em favor do tratamento e da restauração, mesmo que isso traga a dor e as lágrimas da confrontação e da disciplina. O pai corrige o filho porque o ama.
Também o amor não é um padronizador implacável de personalidade. Tem gente que acha que só ama quem fala baixinho, sem muito entusiasmo, aquela coisa de pessoa idosa, que não tem força nem para falar. Isto não tem absolutamente nada a ver com amor. Pessoas vibrantes podem ser amorosas e pessoas sem ânimo podem ser maquiavélicas. Ama de fato não quem age de acordo com nossas expectativas, mas quem age de acordo com a verdade.
O amor verdadeiro é um reflexo de Deus. O falso amor é reflexo na natureza decaída do homem.